Relato de Visita – São Remo

Por Isabella Ventura

Histórico da favela São Remo

A formação da favela São Remo se relaciona diretamente com a criação do campus da Cidade
Universitária na zona oeste de São Paulo, em 1934, após um decreto assinado pelo governador Armando
Salles de Oliveira. O maior investimento em infraestrutura da Universidade ocorreu na década de 60 e,
nesse período, diversos trabalhadores do Nordeste vieram para o local para atuarem nas obras do Campus.
Após a construção dos edifícios, os trabalhadores, com suas respectivas famílias, continuaram nos
alojamentos criados pela empresa que administrava as obras, o que deu início ao que hoje é a ocupação
favela. No início a favela era bem precária, o local era cheio de mato e não contava com serviços básicos
como água, luz, esgoto e energia elétrica. Com o tempo e a reivindicação das lideranças, a área foi
melhorando e se consolidando, mesmo com as ameaças constantes de remoção. A maior parte da área
ocupada pela São Remo é formada por lotes de propriedade da USP, que cede o espaço em comodato aos
moradores.

Dados Habitasampa / PMH (Secretaria Municipal de Habitação)
Perímetro de Ação Integrada: Ribeirão Jaguaré 4
Tipo de serviço a executar: Urbanizar e regularizar
Propriedade: Estatal (USP) e particular
Zoneamento: ZEIS 1
Estimativa de número de domicílios: 2000
Estimativa de remoções para execução de obras: 300 (15%)
Abastecimento de água: 95%
Esgotamento Sanitário: 40%
Rede Elétrica: 50%
Pavimentação: 60%
Iluminação Pública: 40%
Coleta de Lixo : Parcial
Relatório da Visita
A visita à favela São Remo foi realizada no dia 09/08, com início no Projeto Alavanca, localizado em
frente ao campo de futebol. Conforme relato de um dos integrantes, Reginaldo Santos, o projeto foi
iniciado em 2004, a partir das aulas ministradas pela estudante alemã da FEA, Daniela, para as crianças de
uma família que residia na área. A atividade fez sucesso e começou a ser procurada por outros moradores,
já que as crianças, após as aulas, tiveram grande avanço no desempenho escolar. Assim, devido essa
procura, a estudante resolveu criar a ONG, que existe oficialmente desde 2005, para promover a educação
e inclusão social dos moradores da favela.
Após sua criação a ONG conseguiu uma parceria com o governo da Alemanha para obter recursos
para as atividades, porém, em 2010, Daniela acabou por se desligar da Alavanca para retornar ao seu país
de origem, deixando alguns educadores como responsáveis. Em 2013, após uma série de dificuldades,
principalmente financeiras, devido ao término da parceria com o governo alemão, o projeto foi fechado e o
prédio abandonado. Em um local carente de atividades sociais, esse fechamento teve um impacto muito
negativo na São Remo, já que os moradores começaram a perguntar pelas atividades e sentiam falta do
espaço para as crianças que a ONG proporcionava. Dessa forma, Reginaldo decidiu reabrir as portas da
entidade e estabelecer novas parcerias, já com atividades em desenvolvimento, como desenho, ministradas
pela Laerte e brincadeiras com cães terapêuticos.
Nessa ocasião, Reginaldo relatou que a ocupação na favela São Remo foi iniciada na década de 70,
pela população oriunda do Nordeste que migrou para São Paulo para trabalhar na construção da Cidade
Universitária. Explicou que, por volta da década de 80, a área foi atendida com luz e água e, em 90,
parcialmente com esgoto. Comentou ainda que, após a chegada da infraestrutura, a favela foi ficando mais
densa e as casas da comunidade, muitas em madeira, substituídas por alvenaria. Relatou também de um
terreno cheio de minas de água, denominado pelos moradores de “Buracanã”, junto à favela Sem Terra.
Na conversa com o Reginaldo, também foi discutida a relação da favela com a USP, em alguma
medida, conflituosa. Quase sempre os estudantes utilizam a favela para realizar trabalhos acadêmicos, mas
os moradores não sentem um retorno, além disso, no acesso da favela à Universidade, existem portarias
com seguranças e catracas que restringem o acesso. Quanto à facilidade de se morar na região, Reginaldo
esclareceu que há posto da saúde da família e escolas próximas, porém falta uma creche, acordada no
governo Haddad devido parceria com Carrefour, mas não implantada, devido à mudança de gestão.

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